Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) lançaram uma nova luz sobre o desenvolvimento do Alzheimer. Um estudo aponta que a inflamação no cérebro é um fator determinante para o estabelecimento e progressão da doença. Publicado na Nature Neuroscience, o artigo revela que o acúmulo das proteínas tau e beta-amiloide só desencadeia a reação dos astrócitos, células essenciais na comunicação entre neurônios, quando a microglia, principal célula de defesa cerebral, também está ativada.
As proteínas tau e beta-amiloide, ao se acumularem, formam aglomerados insolúveis no cérebro. Astrócitos e microglias, responsáveis pela resposta imune cerebral, reagem a esses aglomerados, entrando em um estado reativo que causa inflamação.
A pesquisa demonstra, pela primeira vez em pacientes vivos, a comunicação entre essas células cerebrais no contexto do Alzheimer. Estudos anteriores já haviam observado essa relação em animais e em análises post-mortem. A descoberta foi possível graças a exames de imagem de última geração e biomarcadores ultrassensíveis.
Os cientistas descobriram que a placa beta-amiloide torna os astrócitos reativos, mas a progressão da doença só ocorre quando a microglia também se torna reativa. A ativação conjunta dessas duas células explica grande parte da progressão da doença, influenciando até 76% da variação na cognição.
Ainda não se sabe a causa exata do aparecimento da placa beta-amilóide, mas a combinação de fatores genéticos e exposições ambientais ao longo da vida (expossoma) desempenha um papel crucial. Hábitos saudáveis, como a prática de atividades físicas, boa alimentação, sono de qualidade e estímulo intelectual, podem reduzir o risco de desenvolver Alzheimer. Por outro lado, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade são considerados fatores de risco.
Esta nova compreensão da doença sugere uma mudança de foco no desenvolvimento de tratamentos. Em vez de atacar diretamente as placas beta-amilóides, o estudo indica que interromper a comunicação entre astrócitos e microglias pode ser uma estratégia terapêutica promissora. Acalmar a inflamação no cérebro e modular o diálogo entre essas células pode ser fundamental para combater o Alzheimer.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br