A percepção generalizada sobre os salários dos servidores públicos frequentemente ignora a complexidade e diversidade da realidade. Enquanto alguns cargos federais, especialmente no Judiciário e Legislativo, recebem destaque, a grande maioria dos funcionários públicos possui uma remuneração bem mais modesta.
Um estudo recente aponta que a mediana salarial no serviço público brasileiro, considerando todos os níveis e poderes, é de R$ 3.281. Este valor representa o ponto de equilíbrio, onde metade dos 12 milhões de trabalhadores do setor público ganha menos, e a outra metade ganha mais. Surpreendentemente, cerca de 6 milhões de servidores recebem até esse valor, desmistificando a imagem de privilégios frequentemente associada à categoria.
A análise revela ainda uma acentuada disparidade entre os diferentes níveis da federação. A maior parte dos vínculos empregatícios no setor público (60%) está concentrada nos municípios, onde a situação é ainda mais crítica. A mediana salarial municipal é de R$ 2.640, o que significa que metade dos aproximadamente 7 milhões de servidores municipais recebe esse valor ou menos.
A desigualdade salarial também se manifesta dentro do próprio setor público. No Executivo Municipal, por exemplo, os 10% mais pobres recebem até R$ 1.257, enquanto os 10% mais ricos ganham, em média, R$ 6.664. Essa diferença, embora significativa, é consideravelmente menor do que a encontrada em comparação com os níveis superiores.
No Judiciário Federal, os 20% com menor remuneração recebem cerca de R$ 11.543, quase o dobro do que ganham os 10% mais ricos dos municípios. O Legislativo Federal, por sua vez, apresenta as maiores remunerações médias, com os 10% mais bem pagos chegando a R$ 36.700.
Essa distribuição salarial desigual evidencia uma distorção significativa na percepção pública sobre o funcionalismo. A discussão sobre salários altos geralmente se concentra no funcionalismo federal, ignorando a realidade da maioria dos servidores, que atuam nos níveis municipal e estadual com remunerações consideravelmente inferiores.
Fonte: mundosindical.com.br